Dona Porre e seus alambiques de vento
Noite ciência e arte na UEFS. Dia 6 de junho, 19h, o filósofo, professor e poeta Eduardo Boaventura lançará o livro de poesias Alameda dos Encantos (obra reunida). Quarteto: 2023, 188 p., em relação ao qual produzi festejada crítica literária.
Conhecimento, direcionamento, apoio e provocações filosóficas para formular melhor um pedido, inclusive tendo em vista total responsabilidade nesse processo, ou seja: “a habilidade de resposta” a si e ao outro.
Na mesma data, sob mediação dos professores Heber Uzun e Agenor Sampaio Neto, o Colegiado de Direito da UEFS coordenado pela professora Márcia Misi, apresentará o Seminário Entre o logos e o mito: Taurino Araújo e a Hermenêutica da Desigualdade, a estética e a potência da palavra na arte de formular um pedido.
Apelarei ao Dom Quixote, de Cervantes, e aos divertidíssimos Cincuenta caracteres (el testigo oidor), de Elias Canetti, que, infelizmente apequenam o fantasma ou a caricatura do postulante incauto, estigma de quem não sabe ou não quer reconhecer que “o fato deve ser verificado em função da norma que o regula e, por outro lado, a norma deve ser individualizada e interpretada em função do fato que a regula”, postula Gleydson Kleber Lopes de Oliveira.
Integrará as minhas reflexões o direito de escrita e de fala, a “multiplicidade de dimensões do estranho, que nos retira da conformidade com o familiar”, mas nos ancora na realidade, conforme acertada conclusão de Nadja Hermann.
Já a caricatura de Dona Porre guardaria semelhanças com a Furiadomada de Alaor Passos em seu festejado 27 caracteres, o eneagrama em nuances, p. 55: “parece mansa e delicada, mas por dentro ferve desaprovação”, sempre à cata de bêbedos, babacas e barbeiros imaginários.
É assim que se faz! Não é assim que se faz, não! Subvocaliza Dona Porre antes de postular absurdos sem autocrítica, que nunca e jamais se sustentariam perante o auditório universal de Perelman, composto de vozes as mais autorizadas e diversas.
“No terreno da caracterologia não há como fazer literatura sem também fazer psicologia”, arremata Alaor Passos. Logo, nossa madrinha “[e]sfrega-a com esmero, e não raro até sangrar. É para o ‘bem da pobre criança que, quando crescer, certamente lhe agradecerá”.
Qual Dom Quixote, a questão espaço-temporal levantada por Dona Porre é meramente cerebrina. Ela precisa se dar conta da real (im)pertinência de tantas queixas sem bafômetro, que empaca, em vez do vento, na sólida estrutura de um bastião.
É hora unir as diferenças nessa súplica potente por um mundo mais justo. Aliás, a contestar a aversão de Dona Porre, há uma ética e uma estética da alteridade (pulsante, em ação e, sobretudo, real!), repleta de méritos, au-delà de seu nicho.
Personagem seminal
Sabe-se que, na história do romance moderno, o papel de Dom Quixote é reconhecido como seminal. A evidência disso pode ser vista em Daniel Defoe, em Henry Fielding, em Tobias Smollett e Laurence Sterne e, também, em personagens criadas por alguns romancistas clássicos do século XIX, como é o caso de Walter Scott, de Charles Dickens, de Gustave Flaubert, de Benito Pérez Galdós, de Herman Melville e de Fiódor Dostoiévski.
O mesmo acontece no caso de alguns autores pós-realistas do século XX, como James Joyce e Jorge Luis Borges. Dom Quixote provou ser uma notável fonte de inspiração para os criadores em outros campos artísticos. Desde o século XVII que se têm realizado peças de teatro, óperas, composições musicais e bailados baseados no Dom Quixote. No século XX, o cinema, a televisão e os cartoons inspiraram-se igualmente nesta obra. Dom Quixote inspirou ainda artistas como William Hogarth, Francisco Goya, Honoré Daumier, Gustave Doré, Vasco Prado, Pablo Picasso e Candido Portinari. Fonte Dom Quixote – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)